Lendas do Porto
Ruas e Praças
Lenda das Tripas à Moda do Porto
A alcunha de "tripeiro" com que, desde há séculos, se identifica os naturais ou residentes do Porto, tem também uma lenda associada, que nos remete para a tomada de Ceuta pelos portugueses em 1415: a das Tripas à Moda do Porto.
A lenda cruza-se tematicamente com outras histórias do imaginário popular relacionadas com a participação do Porto no processo da Expansão Marítima portuguesa, de que também são exemplo a do Infante D. Henrique e a Confraria de Massarelos, a lenda da igreja de S.
Nicolau, a da origem da capela do Senhor e da Senhora da Ajuda (Lordelo) ou a lenda de Pedro Cem.
A receita tradicional impõe que as tripas de vitela sejam bem limpas com sal e limão, cozidas com sal e acompanhadas por outras carnes e feijão de manteiga.
Esta receita sui generis é prova, segundo a lenda, do profundo envolvimento do burgo na expedição militar comandada por D. João I que, em 1415, com o envolvimento direto de seu filho, o jovem infante D. Henrique, conquista a cidade norte-africana de Ceuta iniciando, deste modo, a expansão marítima e colonial dos séculos seguintes.
Segundo a tradição, para além do trabalho na construção dos navios e participação dos seus homens na viagem, o Porto forneceu também tudo o que tinha para os mantimentos da frota, tendo abatido todo o gado que possuía e após o que, depois de lhes retirarem as vísceras, foi toda a carne salgada e colocada nos porões das embarcações. À cidade restava apenas as miudezas, as "tripas" com as quais teria agora que inventar alternativas
alimentares face à inexistência de carne. E foi assim que "o Porto fez das tripas coração".
Lenda do fantasma da Estação de S. Bento
Edificada no local onde, desde inícios do século XVI, existira o mosteiro feminino de S. Bento de Avé-Maria, a gare da estação de S. Bento, localizada no coração do Porto, foi inaugurada a 5 de outubro de 1916.
Desde 1856, data em que circulou o primeiro comboio em Portugal, que os homens de negócios do Porto sonhavam com a chegada do caminho-de-ferro à cidade. A linha, vinda de Lisboa, alcança Gaia (Devesas) em 1864. Agora era preciso vencer a escarpa do Douro e cruzar o rio, o que só acontece em 1877 graças ao génio do engenheiro francês Gustave Eiffel que aí constrói a ponte Maria Pia. Mas a estação central do Porto ainda não estava construída. Porquê?
O local escolhido para acolher a estação no centro da cidade foi o do mosteiro de S. Bento de Avé-Maria, cuja demolição se previa praticamente desde o decreto de extinção das ordens religiosas em Portugal que, em 1834, foi imposto pelo novo regime liberal. No entanto, se no caso dos mosteiros e conventos masculinos os frades e monges tiveram poucos dias para os abandonar, no caso dos femininos a lei permitiu que as freiras aí poderiam continuar a habitar até à sua morte. Ora, nalguns casos, tal significou muitas décadas. Foi o que se passou com o mosteiro de S. Bento no Porto, já que o óbito da sua última freira somente aconteceu em 1892! Para desespero dos que queriam há muito o comboio no centro da cidade. Reza a lenda que a última das freiras, ou o seu fantasma, continua a habitar o local. E que, não raras vezes, se ouvem as suas rezas. E outras tantas o seu choro pelo desaparecimento do histórico mosteiro. Ou será um riso sarcástico porque ao longo de muito, muito tempo, conseguiu atrasar as obras da estação que viriam destruir o seu mosteiro?
Lenda do Dragão do Porto
Associado desde há muito à principal instituição desportiva da cidade – o Futebol Clube do Porto – como imagem de força e invencibilidade, a figura mitológica do dragão é também mascote da instituição e dá nome ao seu estádio: Estádio do Dragão, nas Antas. Mas o dragão fazia já, afinal, parte do brasão da própria cidade há mais de um século, encontrando-se espalhado pelos mais diversos locais do Porto e a sua origem nada tem a ver com o clube desportivo.
Recuemos até ao século XIX – mais propriamente 1832/1833 – e ao Cerco do Porto. Ao longo de um ano a cidade resistiu estoicamente ao lado de D. Pedro IV lutando pelos ideias liberais e opondo-se às tropas absolutistas de D. Miguel. Um ano terrível, de enormes sacrifícios, mas em que a bravura das gentes do Porto, bem como a sua solidariedade e interajuda, garantiram a vitória do liberalismo em Portugal. D. Pedro IV não esquecerá a coragem da cidade que assim defende a liberdade e o liberalismo. E agradeceu de diversas formas: doou o seu coração à cidade (entregue por sua filha após a morte do monarca); atribuiu ao Porto e aos seus habitantes a mais alta condecoração do país – a Ordem de Torre e Espada; passou a designar o Porto como Invicta – a “mui nobre, leal e invicta cidade do Porto”; e criou o título de duque do Porto, uma honra destinada, a partir de então, ao segundo filho dos reis de Portugal. D. Pedro morre cerca de um ano depois, mas as suas promessas são cumpridas por sua filha, D. Maria II, que em 14 de janeiro de 1837 promulga as novas armas da cidade do Porto, um brasão onde estão devidamente representados os agradecimentos de D. Pedro: “a insígnia e colar da grande-cruz da antiga e muito nobre ordem de Torre e Espada” e, sobre ela, uma coroa ducal, lembrando que “o segundo filho ou filha dos senhores d’estes reinos tomará sempre o título de duque ou duquesa do Porto”, sobressaindo, por isso, da coroa “um dragão negro das antigas armas dos senhores reis d’estes reinos” cujo pescoço apresenta uma fita com a palavra “Invicta”.
As posteriores alterações ao brasão impostas em 1940 (que aconteceram, de resto, em todo o país), retiraram a coroa (com o dragão) que o encimava, substituída agora por uma “coroa” de cinco castelos. Mas, sublinhando o velho espírito combativo dos portuenses, muitas instituições mantiveram teimosamente o seu dragão.
A alcunha de "tripeiro" com que, desde há séculos, se identifica os naturais ou residentes do Porto, tem também uma lenda associada, que nos remete para a tomada de Ceuta pelos portugueses em 1415: a das Tripas à Moda do Porto.
A lenda cruza-se tematicamente com outras histórias do imaginário popular relacionadas com a participação do Porto no processo da Expansão Marítima portuguesa, de que também são exemplo a do Infante D. Henrique e a Confraria de Massarelos, a lenda da igreja de S.
Nicolau, a da origem da capela do Senhor e da Senhora da Ajuda (Lordelo) ou a lenda de Pedro Cem.
A receita tradicional impõe que as tripas de vitela sejam bem limpas com sal e limão, cozidas com sal e acompanhadas por outras carnes e feijão de manteiga.
Esta receita sui generis é prova, segundo a lenda, do profundo envolvimento do burgo na expedição militar comandada por D. João I que, em 1415, com o envolvimento direto de seu filho, o jovem infante D. Henrique, conquista a cidade norte-africana de Ceuta iniciando, deste modo, a expansão marítima e colonial dos séculos seguintes.
Segundo a tradição, para além do trabalho na construção dos navios e participação dos seus homens na viagem, o Porto forneceu também tudo o que tinha para os mantimentos da frota, tendo abatido todo o gado que possuía e após o que, depois de lhes retirarem as vísceras, foi toda a carne salgada e colocada nos porões das embarcações. À cidade restava apenas as miudezas, as "tripas" com as quais teria agora que inventar alternativas
alimentares face à inexistência de carne. E foi assim que "o Porto fez das tripas coração".
Lenda do fantasma da Estação de S. Bento
Edificada no local onde, desde inícios do século XVI, existira o mosteiro feminino de S. Bento de Avé-Maria, a gare da estação de S. Bento, localizada no coração do Porto, foi inaugurada a 5 de outubro de 1916.
Desde 1856, data em que circulou o primeiro comboio em Portugal, que os homens de negócios do Porto sonhavam com a chegada do caminho-de-ferro à cidade. A linha, vinda de Lisboa, alcança Gaia (Devesas) em 1864. Agora era preciso vencer a escarpa do Douro e cruzar o rio, o que só acontece em 1877 graças ao génio do engenheiro francês Gustave Eiffel que aí constrói a ponte Maria Pia. Mas a estação central do Porto ainda não estava construída. Porquê?
O local escolhido para acolher a estação no centro da cidade foi o do mosteiro de S. Bento de Avé-Maria, cuja demolição se previa praticamente desde o decreto de extinção das ordens religiosas em Portugal que, em 1834, foi imposto pelo novo regime liberal. No entanto, se no caso dos mosteiros e conventos masculinos os frades e monges tiveram poucos dias para os abandonar, no caso dos femininos a lei permitiu que as freiras aí poderiam continuar a habitar até à sua morte. Ora, nalguns casos, tal significou muitas décadas. Foi o que se passou com o mosteiro de S. Bento no Porto, já que o óbito da sua última freira somente aconteceu em 1892! Para desespero dos que queriam há muito o comboio no centro da cidade. Reza a lenda que a última das freiras, ou o seu fantasma, continua a habitar o local. E que, não raras vezes, se ouvem as suas rezas. E outras tantas o seu choro pelo desaparecimento do histórico mosteiro. Ou será um riso sarcástico porque ao longo de muito, muito tempo, conseguiu atrasar as obras da estação que viriam destruir o seu mosteiro?
Lenda do Dragão do Porto
Associado desde há muito à principal instituição desportiva da cidade – o Futebol Clube do Porto – como imagem de força e invencibilidade, a figura mitológica do dragão é também mascote da instituição e dá nome ao seu estádio: Estádio do Dragão, nas Antas. Mas o dragão fazia já, afinal, parte do brasão da própria cidade há mais de um século, encontrando-se espalhado pelos mais diversos locais do Porto e a sua origem nada tem a ver com o clube desportivo.
Recuemos até ao século XIX – mais propriamente 1832/1833 – e ao Cerco do Porto. Ao longo de um ano a cidade resistiu estoicamente ao lado de D. Pedro IV lutando pelos ideias liberais e opondo-se às tropas absolutistas de D. Miguel. Um ano terrível, de enormes sacrifícios, mas em que a bravura das gentes do Porto, bem como a sua solidariedade e interajuda, garantiram a vitória do liberalismo em Portugal. D. Pedro IV não esquecerá a coragem da cidade que assim defende a liberdade e o liberalismo. E agradeceu de diversas formas: doou o seu coração à cidade (entregue por sua filha após a morte do monarca); atribuiu ao Porto e aos seus habitantes a mais alta condecoração do país – a Ordem de Torre e Espada; passou a designar o Porto como Invicta – a “mui nobre, leal e invicta cidade do Porto”; e criou o título de duque do Porto, uma honra destinada, a partir de então, ao segundo filho dos reis de Portugal. D. Pedro morre cerca de um ano depois, mas as suas promessas são cumpridas por sua filha, D. Maria II, que em 14 de janeiro de 1837 promulga as novas armas da cidade do Porto, um brasão onde estão devidamente representados os agradecimentos de D. Pedro: “a insígnia e colar da grande-cruz da antiga e muito nobre ordem de Torre e Espada” e, sobre ela, uma coroa ducal, lembrando que “o segundo filho ou filha dos senhores d’estes reinos tomará sempre o título de duque ou duquesa do Porto”, sobressaindo, por isso, da coroa “um dragão negro das antigas armas dos senhores reis d’estes reinos” cujo pescoço apresenta uma fita com a palavra “Invicta”.
As posteriores alterações ao brasão impostas em 1940 (que aconteceram, de resto, em todo o país), retiraram a coroa (com o dragão) que o encimava, substituída agora por uma “coroa” de cinco castelos. Mas, sublinhando o velho espírito combativo dos portuenses, muitas instituições mantiveram teimosamente o seu dragão.
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