O Balcão
Evento
“Tudo aqui é falso, e tudo deve ser tratado com extrema delicadeza.” Escritor e poeta, Jean Genet não se via como dramaturgo, mas fez da virulência da sua escrita dramática um escalpelizador das normas sociais e literárias. Nestas linhas-mestras condensava a essência de O Balcão (1955), peça que reviu obsessivamente e que faz do bordel de luxo onde se desenrola um arquétipo do mundo e do teatro. Depois da estreia em novembro de 2020, regressamos pela mão de Nuno Cardoso a esta casa de ilusões, um lugar “vizinho da morte, onde todas as liberdades são possíveis”. Neste espaço celular e vigiado, circulam personagens que se encenam como figuras de poder. Em fundo, há uma revolução que se incendeia e consome. “O verdadeiro tema da peça é a ilusão”, dizia Genet. O equívoco entre o fingido e o autêntico, o dentro e o fora (do bordel ou da cena) é permanente, expondo a maquinaria da farsa do poder e a sua dinâmica social. Em O Balcão, somos tanto voyeurs como figuras de um teatro de marionetas onde ver e ser visto são o primado. Neste jogo de espelhos, abrem-se parênteses de poesia e de irrisão. Aí, “com seriedade e a sorrir”, como queria Genet, revemo-nos em ritual e em avatares dos nossos desejos.